Quando se fala de jogos inspirados por Twin Peaks, Deadly Premonition e Alan Wake sempre são dois dos primeiros exemplos citados. Curiosamente, os dois também figuram na minha lista de jogos favoritos.
Com isso em mente, é desnecessário dizer que Virginia chamou muito a minha atenção assim que foi anunciado e eu estava com altas expectativas para o jogo de estréia da Variable State. E minhas expectativas só aumentaram depois de jogar a demo de quinze minutos disponibilizada mês passado e até mesmo a primeira hora do jogo final. É uma pena, então, que Viriginia acabe deslizando em sua reta final e que o gosto que fica na boca após as duas horas de jogatina é amargo.
O jogo te coloca no papel de Anne Tarver, uma novata no FBI, que é enviada para investigar Maria Halperin, uma agente da instituição, enquanto tenta resolver um caso de desaparecimento na cidadezinha de Kingdom, em Virginia. Mas a criança desaparecida é logo deixada de lado e o jogo se foca no seu relacionamento com Halperin e a própria cidade de Kingdom.
Só que enquanto jogos como Firewatch ou The Stanley Parable abusam de diálogos para contar suas histórias e seguem a linguagem comum dos videogames na hora de contar suas histórias, Virginia não tem uma linha sequer de diálogo e utiliza de jump cuts para fazer transições temporais e espaciais.
E apesar de Virginia ter sido bem mais sucedido na hora de contar uma história sem diálogos do que imaginei que ele seria quando li pela primeira vez sobre a escolha dos desenvolvedores e os jump cuts adicionarem uma dinâmica legal ao jogo, ele ainda falha na hora de fazer o jogador criar laços emocionais com as personagens. Mesmo com algumas cenas passando uma quantidade considerável de emoção (até mais do que deveria, considerando a ausência de falas e a animação meia boca), na hora do drama era impossível se importar pra valer com qualquer um daqueles personagens.
Além disso, o jogo se perde conforme se aproxima de seu fim. Se nos primeiros momentos Virigina se apresenta como uma bela homenagem ao trabalho de David Lynch (Twin Peaks, Mullohand Drive), com um enredo relativamente claro – mas cheio de pequenos toques surreais –, na reta final ele se torna uma bagunça cheia de flashbacks, flashforwards, sonhos, confusão e desenvolvedores que se acham mais inteligentes do que realmente são.
A ideia é legal, os visuais são legais e a trilha sonora é realmente maravilhosa. É uma pena que Virginia se perca com uma história desnecessariamente complexa, confusa e até mesmo pretensiosa.
A experiência não é necessariamente ruim e jogar Virginia talvez valha a pena nem que seja só pelo fato dele ser diferente da maioria dos outros jogos que vemos por aí, mas o potencial desperdiçado é claro.
A versão de PC de Virginia foi analisado utilizando uma key cedida ao Outer Pixel pela 505 Games.