Hideo Kojima é um nome que atribuí valor.
Independentemente de suas opiniões relacionadas às obras produzidas pelo indivíduo (e sua excentricidade), é fácil distinguir seu trabalho de toda uma indústria saturada, seja por qualidades ou defeitos. Essa fórmula garante que seus jogos não sejam reconhecidos apenas como mais um fruto de seu selo de qualidade, mas como algo único e que só poderia ser transmitido através de sua direção.
Pouquíssimas pessoas atribuem o valor da criatividade com autoridade, porém esses elementos andam de mãos dadas em direção a um resultado comum; sucesso ao se destacar em um mar de obras diferentes.
Talvez uma das pessoas que mais brilham e moldam tal carisma a seu favor, seja Hideki Kamiya. E não há obra melhor do que Okami para refletir isso.
A falecida Clover Studios, tinha exatamente a função de ser vista como uma fábrica de trabalhos originais e singulares no ramo de desenvolvimento de jogos. Uma saída fácil e elegante para os desenvolvedores da Capcom aplicarem seus projetos de paixão, ao mesmo tempo gerando resultados significativos por tamanha inovação.
Para imaginar que uma mente tão forte quanto cabeça-dura teve a mesma oportunidade, experienciar Okami acabou se tornando uma viagem existencial.
Observando aspectos únicos da personalidade de Kamiya dentro do jogo e reconhecendo valores que moldaram seus próprios gostos, dentro de combinações que não deveriam necessariamente culminar em algo tão coesivo, revela que a dinâmica entre um bom criador de conteúdo e suas inspirações devem complementar cada passo dado.
Um trabalho autoral transcende gêneros.
Com uma fundação de The Legend of Zelda, pitadas de humor ácido e infantil, mesclando elementos da cultura tradicional japonesa com pensamentos disruptivos e despreocupados, Hideki Kamiya pincela o mundo de Okami com uma visão completamente única, unificando aspectos que jamais deveriam ser combinados em quaisquer outras circunstâncias, em uma experiência que só poderia surgir através de si mesmo.
A caricatura escrachada do universo criado por Kamiya não tira valor da sensibilidade por trás dos acontecimentos do título, e apenas adiciona mais uma camada de personalidade para uma história que tem infinitas possibilidades e perspectivas. Formato que casa perfeitamente com o espaço para a imaginação que se abre, sempre que pensamos na legitimidade do folclore e como contos assim surgiram.
Mesmo que apresentando lados sérios e melancólicos, os personagens colorem o mundo com observações divertidas e completamente destoantes em relação a gravidade da situação. Os grandes guerreiros nem sempre são corajosos e destemidos. Não são todas as vilas que reconhecem e tratam os deuses antigos com respeito.
Mas ao descobrir cada vez mais sobre o universo de Okami, de onde ele veio e entender seu estado atual, uma balança orgânica surge com os moldes por trás do game.
Assim como uma direção que permite elementos de exploração, quests secundárias, uma mistura de combate de turnos e esmagamento de botões, uma mecânica que permite usar um pincel mágico para reconstruir partes do cenários e também atacar inimigos, puzzles, economia e até mesmo gerenciamento de itens, de alguma forma traduz toda essa bagunça para uma experiência única e coesiva.
Toda essa mistureba gigantesca de gêneros e elementos completamente diferentes tornam Okami nesse caos especial, cheio de carisma e banhado na influência de Hideki Kamiya.
Discutir divergências que de alguma forma se complementam e constroem algo tão diferente em um trabalho autoral, é como reparar a singularidade de cada estrela no céu. Cada uma delas brilha com uma intensidade intocável, mas ao conectar os pontos e ver uma relação entre elas, algo maior e muito mais único é criado.